domingo, 16 de novembro de 2008

Descoberto cemitério fenício no Líbano


Autoridades do Egito anunciaram a descoberta de uma pirâmide de 4,3 mil anos de idade em Saqqara, a área em que os imperadores da antiga Mênfis eram enterrados no Egito Antigo. Acredita-se que a pirâmide tenha sido construída em homenagem à rainha Sesheshet, mãe do rei Teti - o fundador da 6ª dinastia real do Egito Antigo.

O arqueólogo-chefe do Egito, Zahi Hawass, anunciou a descoberta no próprio local, a cerca de 20 km do Cairo.

A equipe de Hawass explora a região há 20 anos, mas, segundo o arqueólogo, só descobriu a construção sob as areias do deserto há dois meses. Hawass afirma que esta é a 118ª pirâmide a ser encontrada no Egito.

sábado, 1 de novembro de 2008

Descoberta de cidade antiga pode alterar imagem de Davi bíblico

KHIRBET QEIYAFA, Israel - Perto do verde vale de Elah, onde a Bíblia diz que Davi venceu Golias, arqueólogos descobriram uma cidade fortificada de 3 mil anos que pode mudar a percepção do período em que ele liderou os israelenses. Cinco camadas de argila cobriam o que parece ser o texto hebraico mais antigo já encontrado e pode ter enorme impacto no que se sabe sobre a história da escrita e o desenvolvimento do alfabeto.


A área de cinco acres, com seus fortes, casas e portões, também será uma arma no politizado debate sobre Davi e sua capital, Jerusalém, terem sido um reino importante ou uma tribo pequena, uma questão que divide não apenas os estudiosos mas aqueles que buscam desligitimar o sionismo.



Até o momento apenas uma pequena parcela da área foi escavada e nenhuma descoberta foi divulgada ou totalmente analisada. A escavação, liderada por Yosef Garfinkel da Universidade Hebraica de Jerusalém, já causa furor entre seus colegas bem como ansiedade entre aqueles que usam a Bíblia como um guia da história e confirmação de fé.
Fortificações descobertas por arqueólogos / AP
"Este é um tipo de lugar que subitamente abre uma janela para uma área da qual não sabíamos quase nada e ele exige que repensemos o que aconteceu naquele período", disse Aren M. Maeir, professor de arqueologia da Universidade Bar-Ilan e diretor de outra escavação na região. "Essa é uma descoberta única". O período de 10 a.C. é o mais controverso na arqueologia bíblica porque foi ali que, de acordo com o Velho Testamento, Davi uniu os reinos de Judá e Israel, abrindo caminho para que seu filho Salomão construísse seu grande templo e comandasse um enorme império entre os rios Nilo e Eufrates. Para muitos judeus e cristãos, mesmo aqueles que não levam a Escritura ao pé da letra, a Bíblia é uma fonte histórica vital. Para o Estado de Israel, que considera a si mesmo como descendente do reino de Davi, evidências que atestem as histórias bíblicas têm um enorme valor. O website do Ministério do Exterior, por exemplo, apresenta o reino de Davi e Salomão em um mapa como se fossem fatos comprovados.



No entanto, os dados arqueológicos de tal reino são escassos (quaseinexistentes) e inúmeros estudiosos de hoje argumentam que ele não passou de um mito criado séculos depois. Uma grande potência, segundo eles, teria deixado rastros de cidades e atividades, além de ser mencionado por outros. Ainda assim, nada disso aconteceu na região - pelo menos até agora. Garfinkel afirma ter achado algo que muitas gerações buscaram. Ele fez duas apresentações informais no mês passado a colegas arqueólogos.Nesta quinta-feira, ele fará uma leitura formal durante uma conferência em Jerusalém.
Descobertas testadas O que ele encontrou até então impressiona. Dois potes de azeitonas encontrados foram testados para carbono-14 na Universidade de Oxford e datados entre 1050 e 970 a.C., exatamente no período que a maioria das histórias diz que Davi se tornou rei. Outros dois estão sendo testados.



Vista aérea mostra escavações na região de Khirbet Qeiyafa / AP
O especialista em línguas semíticas antigas, Haggai Misgav, afirma que a escrita sobre argila com carvão e gordura animal como tinta foi elaborada no chamado proto-Canaanite e parece ser uma carta ou um documento em hebraico, sugerindo que a alfabetização pode ter sido mais comum do que se imaginava.



Isso pode ter um papel na disputa sobre a Bíblia, uma vez que caso outros escritos apareçam irão sugerir que existia a tradição do registro de eventos que eram passados para a frente séculos antes do que se acredita que a Bíblia tenha sido escrita. Outro motivo que torna este local promissor é o fato de ter sido usado por um curto período de tempo, talvez 20 anos, e então destruído - Garfinkel especula que em uma batalha com os filisteus - e abandonado por séculos, selando as descobertas com uma uniformidade similar a de Pompéia. A maioria dos sítios são feitos de camadas de períodos diferentes, nas quais inevitavelmente há uma mistura, tornando difícil a definição da data exata dos artefatos encontrados. Por ETHAN BRONNER



sexta-feira, 11 de julho de 2008

Que futuro nos espera?


Muitos analistas fazem prognósticos sombrios sobre o futuro que nos espera, como James Lovelock, Martin Rees, Samuel P. Huntington, Jacques Attali e outros. É certo que a história não tem leis, pois ela se move no reino das liberdades que estão submetidas ao princípio de indeterminação de Bohr/Heisenberg e das surpreendentes emergências, próprias do processo evolucionário. No entanto, um olhar de longo prazo nos permite constatar constantes que podem nos ajudar a entender, por exemplo, o surgimento, a floração e a queda dos impérios e de inteiras civilizações.


Quem se deteve mais acuradamente sobre esta questão foi o historiador inglês Arnold Toynbee (+1976), o último a escrever 10 tomos sobre as civilizações historicamente conhecidas: Um Estudo de História. Ai ele maneja uma categoria-chave, verdadeira constante sócio-histórica, que traz alguma luz ao tema em tela. Trata-se da correlação desafio-resposta (challenge-response). Assinala ele que uma civilização se mantém e se renova na medida que consegue equiibrar o potencial de desafios com o potencial de respostas que ela lhes pode dar.


Quando os desafios são de tal monta que ultrapassam a capacidade de resposta, a civilização começa seu ocaso, entra em crise e desaparece. Estimo que nos confrontamos atualmente com semelhante fenômeno. Nosso paradigma civilizacional elaborado no Ocidente e difundido por todo o globo, está dando água por todos os lados. Os desafios (challenges) globais são de tal gravidade, especialmente os de natureza ecológica, energética, alimentar e populacional, que perdemos a capacidade de lhe dar uma resposta (response) coletiva e includente. Este tipo de civilização vai se dissolver.


O que vem depois? Há só conjeturas. O conhecido historiador Eric Hobsbawn vaticina: ou ingressamos num outro paradigma ou vamos ao encontro da escuridão. Quero me deter nos prognósticos de Jacques Attali, economista, ex-assessor de François Mitterand e pensador francês em seu livro Une Brève Histoire de l’Avenir (2006), pois me parecem verossímeis, embora dramáticos. Ele pinta três cenários prováveis que resumirei brevemente.


O primeiro é o do superimpério. Trata-se dos EUA e de seus aliados. Eles conferem um rosto ocidental à globalização e lhe imprimem direção que atende seus interesses. Sua força é de toda ordem, mas principalmente militar: pode exterminar toda a espécie humana. Mas está decadente, com muitas contradições internas que se mostram na inexorável desvalorização do dólar.


O segundo é o superconflito. É o que segue à quebra da ordem imperial. Entra-se num processo coletivo de caos (não necessariamene generativo). A globalização continua, mas predomina a balcanização com domínios regionais que podem gerar conflitos de grande devastação. A anomia internacional abre espaço para que surjam grupos de piratas e corsários que cruzarão os ares e os oceanos, saqueando grandes empresas e gestando um clima de insegurança global. Estas forças podem ter acesso a armas de destruição em massa e, no limite, ameaçar a espécie humana. Esta situação extrema clama por uma solução também extrema.


E o terceiro cenário é o da superdemocracia. A humanidade, se não quiser se autodestruir, deverá elaborar um contrato social mundial com a criação de instâncias de governabilidade global com a gestão coletiva e eqüitativa dos escassos recursos da natureza. Se ela triunfar, inaugurar-se-á uma etapa nova da civilização humana, possivelmente com menor conflitividade e mais cooperação. Só nos resta rezar para que este último cenário aconteça.


quarta-feira, 9 de julho de 2008

Texto do século I a.C. pode redefinir os vínculos entre judaísmo e cristianismo

JERUSALÉM, 7 Jul 2008 (AFP) - Uma misteriosa tabuleta em pedra que parece datar do século I antes de Cristo pode vir a mudar a percepção sobre as origens do cristianismo e revelar que os judeus, antes mesmo de Jesus Cristo, já acreditavam na chegada de um Messias que morreria e ressuscitaria após três dias.Isso é o que afirma o pesquisador Israel Knohl, assegurando que sua análise de um texto hebreu escrito nessa lápide 'poderá mudar a visão que temos do personagem histórico de Jesus'.
"Este texto pode constituir o elo perdido entre o judaísmo e o cristianismo à medida que insere na tradição judia a crença cristã na ressurreição de um messias", declarou à AFP este professor de estudos bíblicos da Universidade de Jerusalém.
A peça se encontra em mãos de um colecionador, David Yislsohn, que vive em Zurique, Suíça, e que declarou à AFP tê-la contrado em Londres, de um antiquário jordaniano. A peça procederia da margem jordaniana do Mar Morto.O texto em hebreu, de natureza apocalíptica, apresenta a "revelação que o arcanjo Gabriel vai despertar o Príncipe dos Príncipes três dias depois de sua morte".
O texto está escrito, com tinta sobre a pedra, em 87 linhas e algumas letras ou palavras inteiras foram apagadas pelo tempo.A análise de Knohl consiste essencialmente em decodificar a linha 80 onde figuram os termos "três dias mais tarde" seguidos por uma palavra meio apagada que, segundo o professor, significa "vive".A paleontóloga Ada Yardeni é mais prudente no que se refere à palavra "vive".
"A leitura do professor é plausível, apesar de a ortografia utilizada ser raríssima", afirma esta especialista em escrituras antigas, que publicou a primeira descrição da lápide em 2007, na revista de história e arqueologia israelense Cathedra.Outros pesquisadores também preferem não tirar conclusões tão radicais do texto descoberto e, inclusive, alguns duvidam de sua autenticidade.
Por sua parte, o pesquisador israelense Yuval Goren, especialista em descoberta de falsificações, afirma não ter "detectado nenhum indício de falsificação no texto da tabuleta".
"No entanto, minha análise não se aplicou à tinta", enfatiza o diretor do departamento de arqueologia e culturas antigas da Universidade de Tel Aviv.Por sua parte, uma arqueóloga que peiu para não ser identificada expressou suas dúvidas sobre a autenticidade desta peça arqueológica.
"É muito estranho que um texto tenha sido escrito com tinta em uma tabuleta de pedra que se tenha conservado até nossos dias. Para ter certeza que não se trata de uma falsificação, seria preciso saber em que circunstâncias e onde exatamente a pedra foi descoberta, o que não é o caso", acrescentou.
O professor Knohl deve apresentar nesta terça-feira sua interpretação em um encontro em Jerusalém por ocasião do 60º aniversário da descoberta dos Manuscritos do Mar Morto.
"Se essa descrição messiânica está realmente lá, isso vai contribuir para desenvolver uma reavaliação da visão popular e da visão acadêmica de Jesus Cristo", comentou o jornal New York Times.
"Isso sugere que a história de Sua morte e ressurreição não era inédita, mas parte de uma reconhecida tradição judia da época".

domingo, 29 de junho de 2008

História





Conceituar é tarefa difícil, senão impossível. Toda conceituação é incompleta, imperfeita. Condensar em poucas palavras todo o conteúdo de idéias de um objeto ou de coisa torna-se tarefa, já o dissemos, quase impossível.




A História é o estudo do homem no tempo, concomitante à análise de processos e eventos ocorridos no passado. Por metonímia, é o conjunto destes processos e eventos. A palavra história tem sua origem nas "investigações" de Heródoto, cujo termo em grego antigo é στορίαι (História). Todavia, será Tucídides o primeiro a aplicar métodos críticos, como o cruzamento de dados e fontes diferentes.
O estudo histórico começa quando os homens encontram os elementos de sua existência nas realizações dos seus antepassados. Esse estudo, do ponto de vista europeu, divide-se em dois grandes períodos: Pré-História e História.
Os historiadores usam várias fontes de informação para construir a sucessão de processos históricos, como, por exemplo, escritos, gravações, entrevistas (História oral) e achados arqueológicos. Algumas abordagens são mais frequentes em certos períodos do que em outros e o estudo da História também acaba apresentando costumes e modismos (o historiador procura, no presente, respostas sobre o passado, ou seja, é influenciado pelo presente).


"O homem não vive somente de pão; a História não tinha mesmo pão; ela não se alimentava se não de esqueletos agitados, por uma dança macabra de autômatos. Era necessário descobrir na História uma outra parte. Essa outra coisa, essa outra parte, eram as mentalidades". (Jacques Le Goff)

"A História procura especificamente ver as transformações pelas quais passaram as sociedades humanas. As transformações são a essência da História; quem olhar para trás, na História de sua própria vida, compreenderá isso facilmente. Nós mudamos constantemente; isso é válido para o indivíduo e também é válido para a sociedade. Nada permanece igual e é através do tempo que se percebe as mudanças". (Vavy Pacheco Borges)

"A História como registro consiste em três estados, tão habilmente misturados que parecem ser apenas um. O primeiro é o conjunto dos factos. O segundo é a organização dos factos para que formem um padrão coerente. E a terceira é a interpretação dos factos e do padrão". (Henry Steele Commager)

Frases sobre a História:

"A história é uma pesquisa que nos ensina o que o homem fez, portanto, o que é o homem." (Collinwood).
"O objetivo da História é por natureza o homem." (Marc Bloch)
"A história está para a humanidade assim como a memória está para o indivíduo, é a memória coletiva." (Piancantol)
"A história é um profeta com o olhar voltado para trás. Pelo que foi e contra o que foi e anuncia o que será."(Eduardo Galeano)
"Não há história pura, não há história imparcial. Toda história serva à vida, testemunho e compromisso." (José Honório Rodrigues)
"A história é um processo dinâmico, dialético, no qual cada realidade traz dentro de si o princípio da sua própria contradição e que gera a transformação constante na História é a luta de classe."(Karl Marx)
"A realidade do social, a realidade fundamental do homem revê-la inteiramente nova aos nosso olhos e, queiramos ou não, nosso velho ofício de historiados não cessa de brotar e de reflorir em nossa mãos (...) Sim quantas mudanças!(...) Todas as Ciências Sociais, inclusive a História, evoluíram, igualmente de maneira espetacular, mas não menos decisiva." (Fernando Braudel)
"A História é a substância da sociedade." (Agnes Heller)

segunda-feira, 28 de abril de 2008

O Parque Nacional Serra da Capivara




O Parque Nacional Serra da Capivara está localizado no sudeste do Estado do Piauí, ocupando áreas dos municípios de São Raimundo Nonato, João Costa, Brejo do Piauí e Coronel José Dias. A superfície do Parque l é de 129.140 ha e seu perímetro é de 214 Km. A cidade mais próxima do Parque Nacional é Cel. José Dias, sendo a cidade de São Raimundo Nonato o maior centro urbano. A distância que o separa da capital do Estado, Teresina, é de 530 Km.
A maneira mais rápida de chegar ao Parque é através de Petrolina, cidade do Estado de Pernambuco, da qual dista 300 Km. A cidade de Petrolina dispõe de um aeroporto onde opera atualmente a Gol, e a BRA, ligando a região com Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. A criação do Parque Nacional Serra Capivara teve múltiplas motivações ligadas à preservação de um meio ambiente específico e de um dos mais importantes patrimônios culturais pré-históricos. As características que mais pesaram na decisão da criação do Parque Nacional são de natureza diversa:



- culturais - na unidade acha-se uma densa concentração de sítios arqueológicos, a maioria com pinturas e gravuras rupestres, nos quais se encontram vestígios extremamente antigos da presença do homem (100.000 anos antes do presente). Atualmente estão cadastrados 912 sítios, entre os quais, 657 apresentam pinturas rupestres, sendo os outros sítios ao ar livre (acampamentos ou aldeias) de caçadores-coletores, são aldeias de ceramistas-agricultores, são ocupações em grutas ou abrigos, sítios funerários e, sítios arqueo-paleontológicos;




- ambientais - área semi-árida, fronteiriça entre duas grandes formações geológicas - a bacia sedimentar Maranhão-Piauí e a depressão periférica do rio São Francisco - com paisagens variadas nas serras, vales e planície, com vegetação de caatinga ( o Parque Nacional Serra da Capivara é o único Parque Nacional situado no domínio morfoclimático das caatingas), a unidade abriga fauna e flora específicas e pouco estudadas. Trata-se, pois, de uma das últimas áreas do semi-árido possuidoras de importante diversidade biológica;




- turísticas - com paisagens de uma beleza natural surpreendente, com pontos de observação privilegiados. Esta área possui importante potencial para o desenvolvimento de um turismo cultural e ecológico, constituindo uma alternativa de desenvolvimento para a região. Em 1991 a UNESCO, pelo seu valor cultural, inscreveu o Parque Nacional na lista do Patrimônio Cultural da Humanidade. Em 2002 foi oficializado o pedido para que o mesmo seja declarado Patrimônio Natural da Humanidade.O Parque Nacional Serra da Capivara é subordinado à Diretoria de Ecossistemas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), tendo sido concluída a sua demarcação em 1990. Em torno do Parque foi criada uma Área de Preservação Permanente de dez quilômetros que constitui um cinto de proteção suplementar e na qual seria necessário desenvolver uma ação de extensão. Em 1994 a FUMDHAM assinou um convênio de co-gestão com o IBAMA em 2002 um contrato de parceria com a mesma instituição. Depois de criado, o Parque Nacional esteve abandonado durante dez anos por falta de recursos federais. Análises comparativas das fotos de satélite evidenciaram esse fato. Durante este período a Unidade de Conservação foi considerada “terra de ninguém” e como tal, objeto de depredações sistemáticas.




A destruição da flora tomou dimensões incalculáveis; caminhões vindos do sul do país desmatavam e levavam, de maneira descontrolada, as espécies nobres. O desmatamento dessas espécies, próprias da caatinga, aumentou depois da criação do Parque, em decorrência da falta de vigilância. A caça comercial se transformou numa prática popular com conseqüências nefastas para as populações animais que começaram a diminuir de forma alarmante. Algumas espécies, como os veados, emas e tamanduás praticamente desapareceram. Estes fatos tiveram conseqüências negativas na preservação do patrimônio cultural. A falta de predadores naturais provocou um crescimento descontrolado de algumas espécies, como cupim ou vespas cujos ninhos e galerias destroem as pinturas.As causas desta situação são em parte externas à região, mas também decorrem da participação da população que vive em torno do Parque. São comunidades muito pobres, algumas das quais exploravam roças no interior dos limites atuais do Parque. Estas populações dificilmente compreendem a necessidade de proteger espécies animais e vegetais uma vez que os seres humanos apenas logram sobreviver.




Assim, a população local depredava as comunidades biológicas e o patrimônio cultural do Parque Nacional e áreas circunvizinhas, pela caça, desmatamento, destruição de colméias silvestres e a exploração do calcário de afloramentos, ricos em sítios arqueológicos e paleontológicos.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Peter Lund, pai da arqueologia paleontologia brasileira



O dinamarquês Peter Wilhelm Lund, nascido em Copenhagen, capital da Dinamarca em 14 de junho de 1801, era filho de ricos comerciantes.
Diplomado pela Universidade de Copenhagem, guiado por seu ardente interesse pelas ciências naturais, veio ao Brasil pela primeira vez em 1825. Buscava não só dar continuidade a seus estudos botânicos e zoológicos, mas também à procura de um clima mais benéfico para sua saúde debilitada por doença pulmonar.
Estabeleceu-se no Rio de Janeiro, onde realizou um exaustivo levantamento de toda a vegetação da baixada fluminense. Realizou também estudos sobre o comportamento das formigas e procedeu à montagem de várias coleções zoológicas. Em 1829, volta à Europa, estabelecendo contato com as mais importantes autoridades em História Natural como Humbold e Cuvier, entre outras.
Em 1833 retorna, em caráter definitivo, ao Brasil. Ainda nesse ano, iniciou uma viagem para estudar a flora brasileira em companhia do botânico L. Riedel. No decorrer desta viagem, ao passar pela região de Curvelo, em Minas Gerais, encontrou um seu conteporâneo, o dinamarquês Peter Claussen, que explorava salitre nas cavernas calcáreas. Visitando então, as cavernas da região, Lund reconhece, pela primeira vez, as ossadas que se encontravam misturadas ao salitre. Diante destas descobertas, ele não hesitou e decidiu optar por uma nova área de pesquisas. Assim, após concluir os estudos "A Respeito da Vegetação dos Campos do Brasil", Lund fixou residência em Lagoa Santa, encontrando ali o lugar ideal para viver.
As primeiras grutas visitadas por ele na região foram a Lapa Vermelha e a Lapa Nova de Maquiné, tendo escrito com minúcias, os espeleotemas encontrados.



"Todos estes deslumbrantes primores da natureza são realçados
pelos mais delicados ornatos tanto de formas fantásticas quanto de
bom gosto, franjas, grinaldas e uma infinidade de outros enfeites,
cuja enumeração seria fastidiosa e incapaz de dar idéia da beleza
do conjunto àqueles que não o viram com os próprios olhos".
(Lund)



Nestas grutas foram encontradas, pela primeira vez, ossadas fósseis, destacando-se: o Smilodon Populator (tigre-dente-de-sabre), o Tatu Gigante e o Nortrotherium Maguinense (preguiça gigante). Eram fósseis notáveis pelo tamanho e de marcantes diferenças com seus similares mais recentes.
Lund pesquisou mais de uma centena de grutas, onde encontrou em torno de 120 espécies fósseis e 94 espécies pertencentes à fauna atual. A coleção de Lund é composta de espécies das seguintes ordens de mamíferos: Marsupiália, Chiroptera, Rodentia,Carnívora, Notungulata, Liptoterna, Artiodáctyla, Perissodactyla, Prosbocídea, Edentada e Primatas.
Suas pesquisas duraram 10 anos e a coleção, possuindo 14 mil peças ósseas, foi enviada para a Dinamarca, sendo posteriormente estudada por Herluf Winge e Reinhard.
Em 1844, Lund perde todo o seu vigor físico, abandonando as pesquisas de campo e passando a viver em completo isolamento, interrompendo, assim, todo o seu trabalho científico.



Lund - as várias facetas do cientista



Além de botânico, zoólogo e paleontólogo, Lund de também grande contribuição à arqueologia de seu tempo. Foi o primeiro a assinalar a existência dos sambaquis (montes de restos marinhos) no litoral brasileiro. Dava como certa a construÇão dos mesmos pelo homem e, assim sendo, se constituíam em valiosos sítios arqueológicos.
Fez mebção às inscrições rupestres encontradas em algumas grutas por ele visitadas e descreveu instrumentos líticos encontrados próximos às margens do Rio Tietê (SP) e em grutas mineiras.
Publicou diversos trabalhos junto à "Real Sociedade Científica Dinamarquesa", obtendo o reconhecimento dos grandes cientistas da época.

Foi ele também quem deu o primeiro passo para o estudo da ecologia brasileira, ao convidar o jovem botânico Eugene Warming para vir a Lagoa Santa fazer um levantamento dos cerrados na região. Um exaustivo estudo da vegetação foi então realizado, dando origem a um magnífico trabalho publicado em 1840 - o primeiro estudo mundial de Fitoecologia.


Lund - o homem



Além de grande cientista, Lund foi também o homem amigo e prestimoso para os habitantes da pequena Vila de Lagoa Santa, onde viveu os últimos anos de sua vida.
De hábitos bastante excêntricos e temperamento arredio, preferindo o isolamento, ele tinha, no entanto, constantemente a seu lado, o filho adotivo, Nereu Cecílio, que o auxiliava em tudo o que fazia.
Prestou inestimável construbuição à vida cultural do Arraial ensinando música e criando a primeira banda de música de Lagoa Santa - a Corporação Musical Santa Cecília.
Todos os seus bens, ele os distribuiu entre seu filho Nereu cecílio e entre algumas pessoas que o serviram, comprovando com isto, mais uma vez, seu caráter humanitário.
Ao pressentir a aproximaÇao de sua morte, ocorrida em 25 de maio de 1880, Lund determinou o lugar onde desejava ser sepultado - à sombra de um pequizeiro, num local aprazível onde costumava ir estudar. Lund era protestante e por isto seu desejo de ter um jazigo particular. No mesmo local foram sepultados seus colaboradores Bherens e Müller.
Em 1935 foi erquido, nesse local, um monumento a Eugene Warning e aLund por iniciativa da Academia Mineira de letras.
Há quase dois séculos atrás, Lund já se preocupava e alertava a todos sobre a importância da preservação do meio ambiente, especialmente das grutas e da vegetação que, àquele tempo, já eram destruídas e depredadas para exploração econômica. Em carta ao rei Cristiano da Dinamarca, ele externou seu desejo e preocupação, concluindo com muita sabedoria, que tudo seria muito diferente se a luz benéfica da ciência guiasse os trabalhos da indústria.

terça-feira, 25 de março de 2008

História redescoberta


Antes de fazer um documentário, o documentarista intui o tema. Mas é durante a filmagem que ele descobre exatamente o que está filmando. É assim que Vladimir Carvalho explica como seu novo filme, O engenho de Zé Lins, transcendeu a idéia inicial de homenagear o escritor José Lins do Rego, autor de obras como Menino de engenho ou Fogo morto, para se tornar uma espécie de retrato do tempo e do Brasil. Um retrato da decadência, em que o esquecimento da obra do autor é contemporâneo do colapso do espaço onde viveu e das transformações na vida nacional.O engenho de Zé Lins, que está sendo lançado sexta (dia 21), em Belo Horizonte, é o novo capítulo na obsessiva luta do diretor de O país de São Saruê e Conterrâneos velhos de guerra no sentido de construir um registro cinematográfico ao mesmo tempo crítico e poético da realidade brasileira.O projeto de O engenho de Zé Lins não surgiu por causa das comemorações do cinqüentenário da morte do romancista em 2007. “É uma idéia que já tem quase 60 anos. Tive minha cabeça feita para José Lins do Rego por causa do meu pai, que era fã dele e estudou no mesmo colégio”, explica. Depois de adulto, a idéia de fazer um documentário sobre o escritor surgiu como uma espécie de “identificação nordestina” (tanto Vladimir quanto José Lins do Rego nasceram na Paraíba). No início dos anos 1960, o cineasta pesquisava a história do Rio Paraíba. A proposta não era fazer um estudo acadêmico ou turístico, mas revelar o rio como uma espécie de acontecimento sociogeográfico. No processo, acabou indo ao encontro de cenários tanto da infância de José Lins do Rego quanto de seus romances, além da questão dos engenhos, da posse de terra, da decadência da economia rural nordestina quando a indústria açucareira começou a se fortalecer em São Paulo.Quartel-generalEm 2003, Vladimir Carvalho resolveu conduzir de uma vez por todas o projeto. Reuniu todo o material que já tinha sobre engenhos e se mudou de Brasília, seu quartel-general nas últimas décadas, para o Rio de Janeiro: “É lá que vivem os parentes de José Lins do Rego e onde estão os poucos arquivos que têm maior quantidade de imagens dele”, explica, referindo-se a acervos de jornais, da família do escritor e do cineasta Sílvio Tendler, outro obcecado com o documentário. “No fim das contas, acho que O engenho de Zé Lins acabou se tornando um filme sobre o Brasil contemporâneo, descoberto a partir de uma abordagem do Brasil agrário”, explica Carvalho.O engenho de Zé Lins se transformou em uma espécie de obra aberta, que o espectador pode abordar a partir de diversos pontos. Há quem aprecie, por exemplo, a ótica política. Vladimir Carvalho, sempre envolvido com a questão social, não poderia deixar de associar ao filme o fato de que o engenho onde José Lins do Rego cresceu é hoje assentamento de trabalhadores rurais sem-terra. “Mas a questão já estava presente na obra dele muito antes de o termo sem-terra existir: Moleque Ricardo antecipou toda a questão agrária, tanto em seu estágio atual quanto em outros momentos da história, como as ligas camponesas dos anos 1960”, diz o diretor.Mas há outras abordagens possíveis: O engenho de Zé Lins pode ser visto como uma obra que fala da narrativa, do documentário e do choque entre eles e a realidade. No filme, Vladimir Carvalho apresenta algumas imagens de Menino de engenho, dirigido por Walter Lima Jr., inspirado no romance homônimo de José Lins do Rego e filmado nos próprios locais da infância do autor. “O engenho de Zé Lins, um documentário, dialoga ao mesmo tempo com Meus verdes anos, que é o livro de memórias de José Lins do Rego, sua autobiografia, e com Menino de engenho, que é um romance, é ficção, mesmo inspirado em fatos ou pessoas reais”, conclui.


Currículo do ensino médio e fundamental terá conteúdo sobre história e cultura indígena


O ensino de história e cultura indígena e afro-brasileira passou a ser obrigatório para alunos do ensino médio e fundamental. Uma lei sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 10 de março inclui a obrigatoriedade da temática no currículo das escolas públicas e particulares.
Para Maria Helena Fialho, coordenadora-geral de Educação na Funai, a lei favorece a disseminação de informações relacionadas ao processo histórico e à importância dos povos indígenas na redução dos preconceitos. “A Funai se dispõe, nesse sentido, a fazer qualquer processo de discussão para contribuir na construção do componente didático indígena na grade curricular”, explica Maria Helena.
O conteúdo programático que se refere à lei incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil. Também será destacado o papel dos índios e negros na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
A educadora e membro titular da Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI), Pierlângela Nascimento Cunha Wapichana, acredita que a lei posiciona os povos indígenas em um novo patamar no cenário nacional da educação. “Nossa esperança é que o povo brasileiro reconheça a diversidade dos povos indígenas e que valorize e respeite essa diversidade. Somente nos preocupa a forma em que será repassado esse conhecimento aos estudantes”, afirma Pierlângela.
Segundo o Diretor do Departamento de Educação para Diversidade e Cidadania da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), Armênio Bello Schmidt, a lei valoriza a diversidade do conhecimento dos povos indígenas, exigindo esforço na formação dos professores não indígenas. “Os municípios e estados terão que criar alternativas para a formação e capacitação dos professores. Outro fator importante é a inserção da diversidade dos povos indígenas, a língua, religião, costumes, enfim, a cultura indígena, nos livros didáticos escolares”, afirmou Armênio Schmidt.

terça-feira, 18 de março de 2008

Escavações revelam muralha do séc. XVI

Os arqueólogos que estão a fazer escavações no Largo do Chafariz de Dentro, em Alfama, para aferir do estado de conservação de uma muralha (a fernandina, do século XIV) "esbarraram" numa outra, construída no século XVI e até agora totalmente desconhecida. Foram ainda achadas loiças, cerâmicas e vidros de luxo, uma espécie de "brindes" inesperados, que vão agora engrossar o espólio do Museu da Cidade. A substituição de uma conduta de saneamento da Simtejo - que obrigaria a esventrar o Largo do Chafariz de Dentro - foi a oportunidade de ouro para os arqueólogos partirem para o estudo da Muralha Fernandina. "Já se sabia que seria interceptado um troço na obra de saneamento. O que ninguém sabia era o estado de preservação, uma vez que parte foi desmantelada em 1765 para a construção do edifício da Alfândega de Lisboa", explicou ao JN Rodrigo Banha da Silva, do serviço de arqueologia do Museu da Cidade.Afinal, a Muralha Fernandina encontra-se em bom estado de preservação. Além desta, do século XIV, os arqueólogos detectaram outra, do século XVI, erguida para servir de reforço à original. "Foi uma surpresa. Isto demonstra que Lisboa foi, de facto, um império à escala mundial. Essa época de esplendor trouxe melhoramentos ao nível das infra-estruturas. As muralhas não foram excepção. Além de terem uma função defensiva eram portas de entrada", explica o arqueólogo.Segundo o responsável, a muralha do século XVI está assente em barrotes de madeira e ainda permanece no local a cofragem de madeira que serviu de alicerce à Muralha Fernandina. "Ficámos também muito surpreendidos com a variedade, quantidade e exuberância dos materiais encontrados, tais como cerâmicas, loiças e vidros de luxo", salientou.Uma vez que a Muralha Fernandina está bem preservada, optou-se por alterar o traçado da conduta da Simtejo, para minimizar os danos na infra-estrutura classificada como monumento nacional. A muralha atravessa o Largo de uma ponta à outra, seguindo o eixo da Rua dos Remédios. A ideia é desviar a conduta (para o lado do rio Tejo) de forma a causar o mínimo de destruição.O novo projecto para o traçado da conduta aguarda por luz verde do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, tutelado pelo Ministério da Cultura. Até lá, a substituição da conduta não será feita. Um impasse que serve apenas aos arqueólogos. Há mais de uma dúzia de anos que o Largo não pode ser usufruído na sua totalidade."É só cacos, só cacos"Quem reside paredes-meias com o Largo do Chafariz de Dentro já não pode ouvir falar em obras e buracos. Apesar da cratera aberta, os moradores mais velhos continuam a utilizar os bancos para um "dolce fare niente" acompanhado do sol primaveril, desdenhando, quase sempre, de quem governa a vida de cócoras remexendo em lixos seculares. "Nós não queremos saber de muralha nenhuma. Para que é que isso nos serve? Não é para tapar mais tarde? Queremos é o Largo arranjadinho. Este buraco com cheiro a esgoto é um antro de ratos e ratazanas", resmunga José Martins, um morador questionado pelo JN sobre o trabalho dos aqueólogos."O que é nos interessam os cacos? Eu vejo-os ali [os arqueólogos] a tirar baldes de lixo. É só cacos, só cacos. Ainda não os vi tirar de lá nada inteiro!", queixava-se, por seu turno, Juvelino Duarte, outro residente em Alfama.A forma como a muralha vai ficar assinalada após a substituição da conduta ainda não está definida. "Manter a muralha à vista seria uma opção muito cara", frisou Rodrigo Banha da Silva. Segundo o arqueólogo serão apresentadas propostas. Uma das hipóteses é a colocação de pedra branca no pavimento, no local exacto de passagem da muralha, além de uma placa explicativa para turistas e lisboetas.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Especialistas criticam herança burocrática deixada por d. João ao sistema tributário


O Planalto anunciou o envio de mais uma proposta de reforma tributária para o Congresso. A aprovação da proposta não deve ser fácil, principalmente em ano eleitoral. Para alguns especialistas, parte do caos tributário de hoje é herança do Brasil colonial e do período em que a família real portuguesa se instalou no Rio de Janeiro há 200 anos.
Em 1808, a maior parte dos impostos não era cobrada diretamente pela coroa. "Quem fazia a cobrança eram os 'contratadores'", afirma o historiador Carlos Gabriel Guimarães, professor da UFF (Universidade Federal Fluminense).
Esses contratadores eram grandes comerciantes portugueses espalhados por todo o império. Eles compravam do Erário Régio (o Tesouro Nacional de hoje) o direito de explorar algum serviço público. A partir de então, tudo o que era arrecadado em forma de impostos ficava com eles.
"Os contratadores já existiam desde o período colonial, mas eles se multiplicaram depois que a família real portuguesa desembarcou no Brasil", afirma a historiadora Wilma Peres Costa, professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
É que, a partir de então, algumas famílias influentes nascidas no Brasil passaram a reivindicar o mesmo privilégio. "Era uma moeda de troca. Como d. João acabara de se instalar no Brasil e precisava do apoio de pessoas influentes, ele concedia a elas o direito de explorar os impostos", afirma a historiadora.
Segundo Guimarães, o sistema gerava muita confusão e falcatrua. "Essa foi a grande herança para o sistema tributário de hoje", diz. "Era uma mistura de interesse público e privado. Não é à toa que a força da lei não vinga até hoje."
Impostos mais conhecidos
O historiador lembra que o Erário Régio gastava muito mais do que arrecadava. "Uma das soluções encontradas foi a criação de impostos para tampar buracos", diz.
Havia imposto para tudo. Pagava-se para utilizar os rios, para transportar escravos do Rio de Janeiro para Minas Gerais e para vender aqueles que conheciam algum ofício. Um dos tributos mais importantes era a cobrança de 10% sobre a herança e rendimento dos imóveis, criado em junho de 1808.
"Era o início do imposto predial", afirma o tributarista Alcides Jorge Costa, professor da faculdade de direito do Largo São Francisco, da USP (Universidade de São Paulo). "D. João criou tantos impostos que deixou o sistema bastante caótico", afirma.
Apesar do caos, Wilma diz que a criação de mais impostos era indispensável para a corte, que acabara de se instalar no Brasil e precisava arcar com o alto custo de transferir para o Rio de Janeiro todo o aparato administrativo que estava em Lisboa. "Isso significou uma das principais mudanças no sistema tributário nacional", diz a historiadora.
É que, até então, cada capitania encaminhava sua arrecadação para o Erário Régio em Lisboa. "Quando o Erário veio para o Rio, começou um conflito entre algumas capitanias, que resistiam em enviar sua arrecadação para outra capitania", diz Wilma.
Ela diz que Bahia, Recife e São Paulo, por exemplo, ficaram ressentidas com a nova posição ocupada pelo Rio. "Além disso, a abertura dos portos permitiu a entrada de recursos. Elas não queriam se desfazer de um dinheiro que antes não existia."
"A tributação foi um das motivações para a Revolução Pernambucana de 1817", afirma a historiadora. "A tensão entre as partes era muito grande. É o embrião do que conhecemos hoje como guerra fiscal."
Burocracia portuguesa
Para o advogado Gilberto Luiz do Amaral, presidente do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), a maior herança de d. João deixou para o sistema tributário brasileiro é a burocracia.
"Herdamos muitos tributos que eram portugueses", diz. "O sistema da época tinha como objetivo gerar receita o mais rápido possível e mandá-la para a coroa."
Ele afirma que essa mentalidade de receita rápida não mudou nem com a independência nem com a proclamação da República. "Uma reforma profunda só começou a ser discutida no Brasil no começo do século 20."
Para melhorar o perfil do sistema de arrecadação, o Planalto envia uma nova proposta de reforma tributária para o Congresso.
Para Amaral, o projeto é tímido e a histórica burocracia deve continuar. "O que foi anunciado pelo governo é insuficiente para resolver o problema", afirma. "No ano passado, foi prometida uma grande simplificação nos impostos, mas o que foi apresentado mexe pouco na burocracia."


WANDERLEY PREITE SOBRINHO

Japoneses escrevem o nome na história da Amazônia



PORTO VELHO, RO – Trinta famílias de japoneses que embarcaram no porto de Kobe em julho de 1954 entraram na Amazônia Ocidental e hoje são reconhecidas pela contribuição ao crescimento socio-econômico da região. Elas chegaram ao porto de Belém (PA) a bordo do navio África Maru. Em seguida, subiram os rios Amazonas e Madeira, rumando para Porto Velho, capital do então Território Federal do Guaporé. Desbravaram a mata virgem nas terras doadas pelo governo, venceram doenças tropicais, plantaram e colheram. De 1954 até hoje, a partir da tentativa do cultivo de seringueira, os japoneses se dedicaram à criação de aves e ao cultivo de verduras e hortaliças. Do grupo inicial restam apenas sete famílias na Colônia 13 de Setembro, onde foram assentados. Dedicaram-se integralmente à agricultura e à avicultura. Muitos se mudaram para a cidade e para outras regiões. Todos viram a transformação do Guaporé em Rondônia e a criação e instalação do novo estado.
Na Colônia fica a sede da Associação Cultural 13 de Setembro fundada pelos imigrantes e seus descendentes. Heishiro Kuriyama, 71 anos – que chegou com 17 anos – é o atual presidente. “Chamou atenção de todos, ainda no porto, as palavras de encorajamento proferidas pelo capitão do navio: enquanto estão no navio, tudo bem, mas é depois do desembarque que começam as dificuldades. Uma vida rigorosa espera pelos senhores. Sejam persistentes e tenham coragem!”— ele recorda. “Calou fundo no coração de nós todos”.
Em julho deste ano, a colônia vai comemorar novamente sua chegada em Rondônia, há 54 anos. Em 2009, a festa será em Manaus. Os japoneses vão lembrar os 80 anos da imigração ao Estado do Amazonas.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Canal de História analisa múmias ao estilo 'CSI'


Pela primeira vez, o Canal de História realiza uma série documental que traz à televisão os trabalhos de uma equipe de investigadores que utilizam técnicas como o carbono 14, raios-x, scanners ou provas de cromatografia de gases e espectrometria de massas. O objectivo de Investigando Múmias, que se estreou ontem às 22.00 no canal de cabo, é aprofundar o conhecimento sobre restos mortais que poderiam datar, alguns deles, do ano 1200 D.C., afirma a estação em comunicado.As investigações foram dirigidas por Stephen Buckley e Joann Fletcher, responsáveis do Centro de Arqueologia Biomolecular da Universidade de York, que durante os últimos anos têm centrado os seus estudos nos restos de seis pessoas para analisar quais poderiam ser as suas origens segundo a posição em que se encontram e as técnicas com que foram embalsamados, noticia o jornal El Mundo. Nesta série, que se estreou em 27 países, o Canal de História recolheu em imagens os sucessivos passos que se aplicam aos restos mortais com o objectivo de se estabelecer a origem das múmias, a sua idade, altura e, sobretudo, as causas da sua morte.Posteriormente, e a partir dos dados obtidos, os documentários incluem os testemunhos dos médicos forenses, que reconstroem como foi a época em que viveram estas pessoas e divulgam novas teorias sobre as civilizações e o contacto que pode existir entre elas há mais de oito séculos. A série Investigando Múmias é composta por seis episódios que estão a ser emitidos diariamente às 22.00. O episódio de hoje, intitulado Caso Extraordinário, trata de uma múmia peruana que estava escondida num armazéns de Londres e, segundo parece, estaria naquele local há mais de cem anos, revela o Canal de História no seu comunicado.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Carpideiras



Fortaleza

A função das carpideiras, o surgimento e origem dessas figuras tão interessantes da cultura popular foram objetos de estudo do Projeto de Pesquisa “Cultura Popular e Cinema - As carpideiras no filme Abril Despedaçado, de Walter Sales”, estudado por um grupo de universitários da Universidade de Fortaleza (Unifor), de Fortaleza.Uma das integrantes do grupo de pesquisa do projeto foi a especialista em Teorias da Comunicação e da Imagem pela UFC, graduada em Comunicação Social pela Unifor e estudante de Jornalismo, Ana Cecília Soares.De acordo com ela, a pesquisa foi realizada de julho de 2003 a junho de 2004. “Entre os objetivos estava que cada membro tinha que se pautar em algum elemento e, eu, resolvi verificar como estava a tradição no Ceará”, disse ela. Posteriormente, serviu como base para sua monografia de conclusão do Curso de Comunicação Social - Publicidade.Segundo a especialista, as carpideiras são pessoas que “lamentam o morto e moribundo por meio de cânticos, reza e, principalmente, lágrimas, em troca de roupas, alimentos e dinheiro. Consiste em encomendar e abrandar a alma do morto para outro mundo”. No estudo, ela verificou que “era como se o morto precisasse de alguém para encaminhar a piedade divina dos pecados”.

No Brasil

Esse ofício em que as pessoas acreditavam que facilitaria a entrada no céu, conforme a estudante, chegou ao Brasil com os portugueses. “O historiador Câmara Cascudo fala que aqui, no Brasil, não tiveram as carpideiras profissionais, pois as nossas atuavam de forma gratuita, não precisavam receber nada em troca, diferentemente das carpideiras da Europa”, comentou ela.

Ana Cecília explicou que, como faz parte de toda uma cultura oral, não existe um local responsável pelo surgimento das carpideiras. “O que se sabe é que iniciou no Egito Antigo e na Europa”.Comentou ainda que, conforme Cascudo, em Roma, chegou-se a divulgar oficialmente a indispensabilidade ritual das carpideiras, dividindo-as em dois grupos fundamentais: a prefica, que era paga para cantar os louvores do morto; e a bustuária, que acompanhava o cadáver ao local da incineração, pranteando-o estridentemente, com base em uma tabela de preços.Na civilização egípcia, durante o cortejo fúnebre, para que a dor que todos sentiam ficasse ainda mais exaltada, carpideiras profissionais eram contratadas. “Com o rosto pintado com lama, as carpideiras não cessavam de gemer e de bater nas próprias cabeças, arranhando as faces e arrancando os cabelos com selvageria”.

Significado

Segundo a etimologia, o verbo “carpi” significa arrancar (cabelos, barba) em sinal de dor, murmurar, sussurrar, chorar. Dessa forma é que agiam as carpideiras do Egito, uma autoflagelação. “Para que a dor ficasse exaltada, elas faziam todo um ritual, rasgavam a blusa, arrancavam os cabelos”, descreveu a estudante.Ela ainda comentou que estas eram contratadas pelas pessoas mais ricas. “Quanto mais ricos, mais a dor tinha que ser enfatizada”, relatou.

Bibliografia

Ela destacou que quase não existe bibliografia sobre o assunto, mas, a partir do que pesquisou, no Brasil, as carpideiras existiram principalmente no Nordeste e em Minas Gerais. Para sua pesquisa se baseou nos estudos de Câmara Cascudo e no livro de Cândida Galeno, “Ritos fúnebres no interior cearense”, de 1956.“Ao fazer minha pesquisa de campo, entrevistando pessoas que tinham sido carpideiras, elas nem conheciam este nome, mas sim como ´cantadeiras de inselências´, que, segundo Cândida Galeno é como esse nome que se conhece no Ceará”, disse a especialista.EntrevistadosEla entrevistou, ao todo, 22 pessoas, na faixa etária de 47 a 83 anos, entre homens e mulheres. Foram dez em Furnalhão, um lugarejo no município de Ubajara; três em Juazeiro do Norte, cinco em São Gonçalo do Amarante e, também, quatro na cidade de Quixeramobim, no Sertão Central do Ceará.“Era uma tradição feminina, mas homens e até crianças participavam. Muitos contaram que aprenderam a cantar com os familiares e a passar a noite inteira valorizando o morto. Sem restrição de sexo e idade”, ressaltou Cecília.CânticosConforme ela, os cânticos eram entoados no mesmo ritmo e, também, no mesmo tom, sem acompanhamento, com um português arcaico.“Os versos se repetiam 7, 10, 11 ou até 12 vezes. Se for verificado no dicionário de símbolos, estes números têm conceito de ciclo de vida concluído e renovação da alma. São bem penosos e acabam incitando o choro nas pessoas”, descreveu a pesquisadora.Como resultado de seu estudo, Ana Cecília constatou que a atividade praticamente não existe mais no Estado do Ceará. “Muitas carpideiras estão vivas, mas doentes, idosas. E, hoje, falta interesse das novas gerações em dar continuidade ao trabalho. Os antigos colocam a culpa na tal da modernidade. E dizem que os benditos foram sendo substituídos por cantos religiosos da Igreja Católica”. Porém, dona Rosinha, em Juazeiro, resiste em manter viva essa tradição histórica.

SAIBA MAIS

Exemplos de benditos ou inselênciasRosário de Maria"1 Rosário de Maria1 Mistério da paixãoOh, minha mãe gloriosaE eu vos dou meu coração"12 anjinhos"Oh, meu Deus, eu vou pro céu2 anjinho vai me levandodo mundo vou me esquecendoe só de Deus vou me alembrando"ObservaçãoCada música era cantada 12 vezes. Nos trechos onde há número, quando eram cantados novamente, iam se modificando. Por exemplo: ´dois rosário de Maria´, ´dois mistério da paixão´...


Mais informações:Ana Cecília SoaresEspecialista em Teorias da Comunicação e da Imagem e publicitária

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

O feudalismo

Introdução


O Feudalismo pode ser visto enquanto um sistema de produção a partir do século IX, definido após um longo processo de formação, reunindo principalmente elementos de origem germânica e de origem romana. Essa estrutura foi marcante na Europa Ocidental e responsável pela consolidação de conceitos e valores que se perpetuarão. Muitos vêem nesse momento o desenvolvimento da "Europa Cristã".

A economia

A economia feudal possuía base agrária, ou seja, a agricultura era a atividade responsável por gerar a riqueza social naquele momento. Ao mesmo tempo, outras atividades se desenvolviam, em menor escala, no sentido de complementar a primeira e suprir necessidades básicas e imediatas de parcela da sociedade. A pecuária, a mineração, a produção artesanal e mesmo o comércio eram atividades que existiam, de forma secundária.


Como a agricultura era a atividade mais importante, a terra era o meio de produção fundamental. Ter terra significava a possibilidade de possuir riquezas ( como na maioria das sociedades antigas e medievais), por isso preservou-se a caráter estamental da sociedade. Os proprietários rurais eram denominados Senhores Feudais, enquanto que os trabalhadores camponeses eram denominados servos.O feudo era a unidade produtiva básica. Imaginar o feudo é algo complexo, pois ele podia apresentar muitas variações, desde vastas regiões onde encontramos vilas e cidades em seu interior, como grandes "fazendas" ou mesmo pequenas porções de terra. Para tentarmos perceber o desenvolvimento socioeconômico do período, o melhor é imaginarmos o feudo como uma grande propriedade rural. O território do feudo era dividido normalmente em três partes: O Domínio, terra comum e manso servilO Domínio é a parte da terra reservada exclusivamente ao senhor feudal e trabalhada pelo servo. A produção deste território destina-se apenas ao senhor feudal. Normalmente o servo trabalha para o senhor feudal, nessa porção de terra ou mesmo no castelo, por um período de 3 dias, sendo essa obrigação denominada corvéia.Terra comum e a parte da terra de uso comum. Matas e pastos que podem ser utilizadas tanto pelo senhor feudal como pelos servos. É o local de onde retiram-se lenha ou madeira para as construções, e onde pastam os animais.Manso servil era a parte destinada aos servos. O manso é dividido em lotes (glebas) e cada servo tem direito a um lote. Em vários feudos o lote que cabe a um servo não é contínuo, ou seja, a terra de vários servos são subdivididas e umas intercaladas nas outras. De toda a produção do servo em seu lote, metade da produção destina-se ao senhor feudal, caracterizando uma obrigação denominada talha.Esse sistema se caracteriza pela exploração do trabalho servil, responsável por toda a produção. O servo não é considerado um escravo, porém não é um trabalhados livre. O que determina a condição servil é seu vínculo com a terra, ou seja, o servo esta preso a terra. Ao receber um lote de terra para viver e trabalhar, e ao receber (teoricamente) proteção, o servo esta forçado a trabalhar sempre para o mesmo senhor feudal, não podendo abandonar a terra. Essa relação, definiu-se lentamente desde a crise do Império Romano com a formação do colonato.Além da corvéia e da talha, obrigações mais importantes devidas pelo servo ao senhor, existiam outras obrigações que eram responsáveis por retirar dos servo praticamente tudo o que produzia.Tradicionalmente a economia foi considerada natural, de subsistência e desmonetarizada. Natural por que baseava-se em trocas diretas, produtos por produto e diretamente entre os produtores, não havendo portanto um grupo de intermediários (comerciantes); de subsistência por que produzia em quantidade e variedade pequena, além de não contar com a mentalidade de lucro, que exigiria a produção de excedentes; desmonetarizada por não se utilizar de qualquer tipo de moeda, sendo que havia a troca de produto por produto.Apesar de podermos enxergar essa situação básica, cabem algumas considerações: o comércio sempre existiu, apesar de irregular e de intensidade muito variável. Algumas mercadorias eram necessárias em todos os feudos mas encontradas apenas em algumas regiões, como o sal ou mesmo o ferro. Além desse comércio de produtos considerados fundamentais, havia o comércio com o oriente, de especiarias ou mesmo de tecidos, consumidos por uma parcela da nobreza (senhores feudais) e pelo alto clero. Apesar de bastante restrito, esse comércio já era realizado pelos venezianos.Mesmo o servo participava de um pequeno comércio, ao levar produtos excedentes agrícolas para a feira da cidade, onde obtinha artesanato urbano, promovendo uma tímida integração entre campo e cidade. " A pequena produtividade fazia com que qualquer acidente natural (chuvas em excesso ou em falta, pragas) ou humano ( guerras, trabalho inadequado ou insuficiente) provocasse períodos de escassez" (1) Nesse sentido havia uma tendência a auto suficiência, uma preocupação por parte dos senhores feudais em possuir uma estrutura que pudesse prove-lo nessas situações.


A sociedade


A sociedade feudal era composta por duas classes sociais básicas: senhores e servos. A estrutura social praticamente não permitia mobilidade, sendo portanto que a condição de um indivíduo era determinada pelo nascimento, ou seja, quem nasce servo será sempre servo. Utilizando os conceitos predominantes hoje, podemos dizer que, o trabalho, o esforço, a competência e etc, eram características que não podiam alterar a condição social de um homem.O senhor era o proprietário dos meios de produção, enquanto os servos representavam a grande massa de camponeses que produziam a riqueza social. Porém podiam existir outras situações: a mais importante era o clérigo. Afinal o clero é uma classe social ou não?O clero possuía grande importância no mundo feudal, cumprindo um papel específico em termos de religião, de formação social, moral e ideológica. No entanto esse papel do clero é definido pela hierarquia da Igreja, quer dizer, pelo Alto Clero, que por sua vez é formado por membros da nobreza feudal. Originariamente o clero não é uma classe social, pois seus membros ou são de origem senhorial (alto clero) ou servil (baixo clero).A maioria dos livros de história retrata a divisão desta sociedade segundo as palavras do Bispo Adalberon de Laon: "na sociedade alguns rezam, outros guerreiam e outros trabalham, onde todos formam um conjunto inseparável e o trabalho de uns permite o trabalho dos outros dois e cada qual por sua vez presta seu apoio aos outros" Para o bispo, o conjunto de servos é "uma raça de infelizes que nada podem obter sem sofrimento". Percebe-se o discurso da Igreja como uma tentativa de interpretar a situação social e ao mesmo tempo justifica-la, preservando-a. Nesta sociedade, cada camada tem sua função e portanto deve obedece-la como vontade divina.


Na camada superior, "os guerreiros" pode-se perceber uma diferença entre nobres e cavaleiros. Os primeiros descendem das principais famílias do período carolíngeo, enquanto que os demais se tornaram proprietários rurais a partir da concessão de extensões de terras oferecidas pelos nobres. Essa relação era bastante comum, fortalecia os laços entre os membros da elite, mesmo por que os cavaleiros se tornavam vassalos e ao mesmo tempo procuravam imitar o comportamento da nobreza tradicional, adotando sua moral e seus valores. Com o passar do tempo a diferenciação entre nobres e cavaleiros foi desaparecendo; preservou-se no entanto a relação de suserania e vassalagem.A relação de suserania e vassalagem é bastante complexa. Sua origem remonta ao Reino Franco, principalmente durante o reinado de Carlos Magno e baseia-se na concessão do feudo (beneficium).Surgem os dois primeiros problemas: Quem esta envolvido nesta relação? e, o que é feudo?Esta relação é eventual, pode existir ou não, dependendo da vontade ou da necessidade das partes, que são sempre dois senhores feudais; ou seja, é uma relação social que envolve membros da mesma camada social, a elite medieval. O termo feudo originariamente significava "benefício", algo concedido a outro, e que normalmente era terra, daí sua utilização como sinônimo da "propriedade senhorial". Suserano é o senhor que concede o benefício, enquanto que vassalo é o senhor que recebe o benefício. Esta relação, na verdade bastante complexa, tornou-se fundamental durante a Idade Média e serviu para preservar os privilégios da elite e materializava-se a partir de três atos: a homenagem , a investidura e o juramento de fidelidade. Normalmente o suserano era um grande proprietário rural e que pretende aumentar seu exército e capacidade guerreira, enquanto o vassalo, é um homem que necessita de terras e camponeses.
O poder
No mundo feudal não existiu uma estrutura de poder centralizada. Não existe a noção de Estado ou mesmo de nação. Portanto consideramos o poder como localizado, ou seja, existente em cada feudo. Apesar da autonomia na administração da justiça em cada feudo, existiam dois elementos limitadores do poder senhorial. O primeiro é a própria ordem vassálica, onde o vassalo deve fidelidade a seu suserano; o segundo é a influência da Igreja Católica, única instituição centralizada, que ditava as normas de comportamento social na época, fazendo com que as leis obedecessem aos costumes e à " vontade de Deus". Dessa forma a vida quase não possuía variação de um feudo para outro.É importante visualizar a figura do rei durante o feudalismo, como suserano-mor, no entanto sem poder efetivo devido a própria relação de suserania e a tendência á auto-suficiência econômica.Leia sobre o feudalismo

(1) Franco Jr, Hilário, O feudalismo, Ed. Brasiliense, col. Tudo é História.



Mosteiro da Luz pode ter catacumba com 40 múmias


Um terceiro corpo encontrado no Mosteiro da Luz, em São Paulo, pode ser o indício de que pode haver uma catacumba com outras 40 múmias enterradas no local, informou o jornal O Estado de S.Paulo nesta quinta-feira. Restos mumificados de duas freitas foram encontrados durante uma descupinização.Segundo o jornal, o terceiro corpo com fragmentos de músculos nos ossos da mão estaria abaixo dos já encontrados. Agora, uma equipe de especialistas vai verificar se existem outros cadáveres no mosteiro. A suspeita em relação a uma possível catacumba vem da análise preliminar de documentos históricos.Outras quatro câmaras mortuárias serão avaliadas, apesar de algumas informações encontradas não coincidirem com os registros históricos das irmãs concepcionistas. Sobre o terceiro corpo, o arqueólogo Sérgio Monteiro da Silva, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, acredita que ele foi devorado por cupins.

II Jornadas de Turismo, Património e Cultura


Norte Alentejano

Vai decorrer nos próximos dias 5, 6 e 7 de Março, na Câmara Municipal de Avis, as II Jornadas de Turismo, Património e Cultura do Norte Alentejo com a presença da Senhora Secretária de Estado da Cultura, Professora Doutora Paula Fernandes dos Santos. Esta iniciativa que conta com o apoio do Instituto Politécnico de Tomar (IPT) e da Câmara Municipal de Avis é organizada por um grupo de alunos dos cursos de Técnicas de Arqueologia, Gestão do Território e Património Cultural e de Gestão Turística e Cultural do IPT e visa dinamizar e promover as regiões mais interiores do norte Alentejano ao nível do património e dos recursos turísticos e culturais. Serão abordadas diversas temáticas nomeadamente: Avis e a sua importância no contexto da História de Portugal; Pré-História e Arqueologia do Norte Alentejano; Gestão, Divulgação e Valorização do Património Arqueológico no Norte Alentejano; Turismo e Desenvolvimento de Base Territorial; Turismo: Planeamento, Formação Superior e Gestão de Recursos Turístico - Culturais, entre outras. Pela qualidade dos oradores e pela pertinência e actualidade dos temas em debate, a 2.ª Semana da Gestão vai constituir uma importante ferramenta para análise de problemáticas do panorama nacional.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

O que é história?



A História é o estudo do homem no tempo, concomitante a análise de processos e eventos ocorridos no passado. Por metonímia, o conjunto destes processos e eventos. A palavra história tem sua origem nas «investigações» de Heródoto, cujo termo em grego antigo é Ἱστορίαι (História). Todavia, será Tucídides o primeiro a aplicar métodos críticos, como o cruzamento de dados e fontes diferentes.
O estudo histórico começa quando os homens encontram os elementos de sua existência nas realizações dos seus antepassados. Esse estudo, do ponto de vista europeu, divide-se em dois grandes períodos: Pré-História e História.
Os historiadores usam várias fontes de informação para construir a sucessão de processos históricos, como, por exemplo, escritos, gravações, entrevistas (História oral) e achados arqueológicos. Algumas abordagens são mais frequentes em certos períodos do que em outros e o estudo da História também acaba apresentando costumes e modismos (o historiador procura, no presente, respostas sobre o passado, ou seja, é influenciado pelo presente).

Os eventos anteriores aos registos escritos pertencem à Pré-História e as sociedades que co-existem com sociedades que já conhecem a escrita (é o caso, por exemplo, dos povos celtas da cultura de La Tène) pertencem à Proto-História.

"O saber de hoje passa pela imagem" - Marc Ferro


Num momento em que um filme como "Olga" desencadeia críticas negativas e defensores apaixonados, é bom ter por perto Marc Ferro, o historiador francês que, nos anos 70, passou a utilizar o cinema como objeto de estudo.Na próxima semana, o historiador participa do Recine, no Rio, depois fala no Sesc Paulista, em São Paulo, e se apresentará também na Unicamp. Ferro traz de novo à discussão os usos e abusos da imagem, não se limitando apenas às formas de representação da história pelo cinema mas também de como o cinema e a televisão se converteram em produtores autorizados de interpretações históricas, superando os livros.Autor de extensa bibliografia sobre a história contemporânea, Ferro não se limitou a criticar imagens. Ele é também um produtor de documentários e programas de televisão.É no trânsito entre a observação crítica das imagens e a sua construção que pôde realizar seus trabalhos mais significativos, como o programa "Histoire Parallèle", onde comparava cinejornais produzidos durante a guerra pelos diferentes países beligerantes, ou seus livros, onde a "história" dos historiadores tem o mesmo estatuto dos mitos, fábulas e filmes.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O coringa no baralho



FIDEL CASTRO continua a ser o coringa no baralho. Ele sabe que nenhum dos candidatos, em meio à campanha presidencial dos Estados Unidos, vai querer assumir um compromisso quanto a mudar radicalmente a política norte-americana com relação a Cuba, especialmente tendo em vista o fato de que a situação eleitoral na Flórida continua em aberto, como continuará até novembro. Assim, ao renunciar ao seu posto como chefe de Estado na terça-feira, Castro uma vez mais desconcertou seus inimigos e recolocou seu país na agenda internacional.
Os especialistas em assuntos cubanos estão confusos com o que está acontecendo; nisso eles não diferem muito dos velhos "kremlinólogos", que foram apanhados completamente despreparados quanto o sistema soviético implodiu. Um famoso kremlinólogo que eu conhecia na época, quando questionado sobre o papel dos dissidentes, disse que "jamais conversou com eles", o que explica muita coisa! Mas será que teremos uma transição tão descomplicada em Cuba como os especialistas acreditam?
Existem dois modelos de sucessão de ditaduras prolongadas que vale a pena considerar: Espanha e Portugal, nos anos 70. Em Portugal, o velho ditador Salazar morreu e foi sucedido por um de seus veteranos colaboradores, Marcelo Caetano. Mas Caetano era tímido demais. Ele não pôs fim às guerras coloniais de Portugal na África e não procurou uma aproximação com forças democráticas moderadas na sociedade portuguesa, que desejavam ajudá-lo a modernizar a economia e as instituições do país. Em cinco anos, o edifício do regime ruiu completamente, e o país caiu no caos político e social.
Na Espanha, Francisco Franco também morreu de causas naturais. O velho ditador havia estabelecido procedimentos institucionais para perpetuar o regime. Mas o sucessor que escolheu, o rei Juan Carlos, não seguiu o roteiro. A Espanha negociou uma clara ruptura institucional com o passado, e a Europa acolheu o novo regime democrático em Madri e ajudou em sua consolidação por meio de uma grande transferência de verbas.
Cuba seguirá o exemplo de Portugal ou o da Espanha? Muito dependerá do bom senso dos governos latino-americanos, especialmente o brasileiro, bem como dos europeus. A verdade é que chegou a hora de criar um novo grupo de "amigos de Cuba", uma organização de alto nível cuja função seria ao menos a de indicar aos Estados Unidos que a era das ações unilaterais norte-americanas contra Cuba é coisa do passado.
Castro jogou sua carta. E ele observará as conseqüências atentamente.


KENNETH MAXWELL

A PREVISÃO EM HISTÓRIA: o papel do historiador de acordo com Eric Hobsbawm


Na obra O século XXI. Reflexões sobre o futuro, resultante de uma entrevista concedida pelo historiador a António Polito, considera o primeiro relativamente à percepção de tendências e de caminhos para o futuro por parte do historiador:
"Todos nós prevemos ou tentamos prever o futuro. Faz parte da vida e dos negócios tentar perceber o caminho que o futuro vai percorrer, enquanto nos for possível. Mas o processo de previsão do futuro deve necessariamente apoiar-se no conhecimento do passado. O que irá acontecer tem de estar ligado com o que já aconteceu, e é neste ponto que o historiador entra em cena. Sem procurar ganhar nada com isso, pois o seu trabalho não é explorar o seu conhecimento para obter algum lucro. O que o historiador pode fazer é tentar analisar que partes do passado são importantes, quais são as tendências e os problemas. Devemos então, dentro de certos limites, fazer uma tentativa de previsão, mas com a consciência de poder cair na imitação do vidente. Isto é, temos de saber que grande parte do futuro, na prática e por princípio, é totalmente imprevisível. Parece no entanto que os factos realmente imprevisíveis são os acontecimentos individuais, específicos, e que o verdadeiro problema para os historiadores é perceber a importância que estes podem vir a ter. Por vezes, a análise poderá revelá-los significativos, outras vezes, não. (...) Vemos então que os acontecimentos por vezes não têm importância para a previsão do historiador, outras vezes assumem um significado fundamental. É aqui que está o limite do esforço de previsão. (...)"


(HOBSBAWM, Eric J. - O século XXI. Reflexos sobre o futuro. Lisboa: Editorial Presença, 2000, p. 11-12)

Arqueólogos encontram templo de 4 mil anos no Peru

Um grupo de arqueólogos encontrou um templo e um mural de cerca de 4 mil anos na província de Chiclayo, no norte do Peru, que pode remontar ao início da civilização nesta região, informou o líder da investigação, Walter Alva.
Segundo a datação realizada por radiocarbono no laboratório Beta de Miami, o santuário e o mural "têm 4 mil anos", revelou Alva em Chiclayo, 780 km ao norte de Lima.
"Trata-se de um novo elemento da pré-história andina e podemos ter descoberto o início da civilização na costa norte do Peru".
O templo, situado dentro de uma grande construção, tem uma escada central e uma grande sala, onde há um altar de culto ao fogo.
Alva revelou que os trabalhos começaram no início de 2007 e que após três meses encontraram um mural multicolor, em uma zona denominada Ventarrón.
No mural há uma figura que parece um veado, o que representaria o ritual de caça praticado pelos antigos habitantes do lugar. Há ainda alguns animais presos em uma rede que tentam escapar de seus captores.
O prédio que abriga o mural tem 50 metros de comprimento por 50 metros de largura, e suas paredes estão decoradas com pinturas em vermelho, branco e verde.
Alva afirma que o santuário tem especial significado para a ciência porque sua construção revela técnicas de edificação jamais registradas. Suas paredes foram levantadas com blocos de sedimentos argilosos trazidos, provavelmente, das margens de um rio próximo.
"O que surpreende são as técnicas de construção e seu desenho arquitetônico, além da existência de pinturas murais, que podem ser as mais antigas da América".
Alva também ficou surpreso com o fato de não haver imagens do período "Formativo", como felinos, serpentes e aves, o que apontaria uma tradição diferente. Também não existe qualquer elemento ligado ao mar, apesar de ser uma civilização costeira.
O templo corresponderia aos antepassados da civilização do "Senhor de Sipán", um rei pré-incaico que governou há 1.700 anos e foi achado em uma tumba quase intacta, coberto de ornamentos de ouro.

France Presse, em Lima

Múmias e sarcófagos milenares são encontrados no Egito

Uma coleção de múmias e sarcófagos do período greco-romano egípcio (332 a.C - 395 d.C) foi achada em razoável estado de conservação no cemitério de Deir el-Banat, na localidade de Fayoum, 120 km ao sul do Cairo.
Segundo um comunicado do Conselho Supremo de Antiguidades (SCA, em inglês), algumas das múmias, cujo número não foi especificado, se encontravam envolvidas com vendas de linho.
Além das múmias, cuja identidade é desconhecida, foram achados três sarcófagos decorados com escrituras funerárias, que remontam à Dinastia Ptolomaica (350-30 a.C).
Dentro de um dos sarcófagos foi descoberta uma múmia despedaçada, cujo rosto estava coberto com uma máscara dourada, acrescentou a nota, que cita o secretário-geral do SCA, Zahi Hawass.
A mensagem faz referência ainda à descoberta de uma coleção de jóias e 40 pedaços de tecidos, impressos com desenhos de chaves e âncoras.
As antiguidades achadas foram armazenadas na região de Kum Oshim, em Fayoum, onde duas das múmias foram examinadas com raios X, o que permitiu verificar que pertencem a mulheres que aparentemente morreram ainda jovens.
Uma missão de arqueólogos russos deve fazer um esboço dos rostos das duas múmias para tentar precisar seus traços, segundo a nota.

Efe, no Cairo

Múmias de 2 freiras são encontradas no mosteiro da Luz

Uma escavação à procura de um foco de cupins acabou resultando na descoberta dos corpos mumificados de duas irmãs da ordem espanhola das Concepcionistas, em um nicho em uma parede de taipa de pilão do mosteiro da Luz (região central de São Paulo), onde funciona o Museu de Arte Sacra de São Paulo.
As múmias foram encontradas lado a lado, "uma com a cabeça sobre o ombro da outra", conta a diretora do museu, Mari Marino. Segundo a diretora, uma tem a pele conservada, os sapatos calçados e um terço nas mãos, cruzadas "em posição de amém". Da segunda, menos conservada, foi encontrada a ossada, corroída pelos cupins.
A descoberta foi revelada ontem pelo "Diário de S. Paulo".
O salão onde estão as múmias abrigava um cemitério onde eram sepultadas as irmãs concepcionistas. Ele fica ao lado da antiga sacristia do mosteiro, erguido em 1774 pelo frei Galvão -primeiro santo brasileiro, canonizado em 2007.
O cemitério funcionou nesse salão até 1822, ano da morte de frei Galvão, quando os enterros passaram a ser feitos do lado de fora. Desde 1774, 129 freiras foram enterradas no mosteiro.
Para serem sepultados, os corpos das freiras eram envoltos em uma espécie de casulo feito de argila e coberto com terra e cal, diz o arqueólogo Sérgio Monteiro da Silva, do departamento de arqueologia da morte do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP.
Apesar de terem sido encontradas juntas, a principal hipótese é que as freiras tenham sido sepultadas separadamente. "A segunda freira provavelmente morreu anos depois e, no sepultamento, a primeira foi empurrada para trás", diz Silva, que participou da escavação.
O trabalho de escavação foi conduzido por uma equipe de cerca de 12 pessoas -além da descupinizadora e da direção do museu, arqueólogos, legistas, religiosos e fotógrafos acompanharam o trabalho.
Uma comissão formada por membros do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP e religiosos já deu início a análises químicas e pesquisas nos arquivos da cúria para identificar as freiras.
As múmias deverão futuramente ser expostas ao público.
A escavação começou no sábado de Carnaval, mas a limpeza completa das múmias só terminou na sexta-feira. Os corpos permanecem dentro de um dos seis carneiros (espécie de gaveta mortuária comum em construções antigas) da sala.
No local há outros cinco carneiros e irmãs sepultadas sob o chão. Um outro carneiro chegou a ser aberto, mas permanece intocado por recomendação de especialistas. As outras quatro gavetas só deverão ser abertas após análises com um radar de superfície. O equipamento, utilizado para identificar covas clandestinas, deve ser cedido pela Sabesp (empresa de saneamento de São Paulo). RICARDO SANGIOVANNI da Folha de S.Paulo

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Arqueologia: Descoberto antigo centro da dinastia persa Aquemédia

Teerão, 25 Fev (Lusa) - Arqueólogos iranianos e australianos descobriram o que julgam ser os vestígios da cidade de Lidoma, um importante centro de governo da dinastia persa Auqueménida, do século VI antes de Cristo (a.C.).
Os arqueólogos encontraram um enorme edifício de cerca de 1.500 metros quadrados e 14 metros de altura, assim como um terraço com três escadarias e objectos que julgam remontar ao Império Aqueménida, fundado por Ciro, o grande (575-530 a.C).
Segundo o jornal Teheran Times, a descoberta deu-se durante as escavações que a equipa arqueológica realiza em Saravan, na província meridional de Fars, onde se situava o centro do antigo império.
As colunas encontradas durante as escavações - terminadas na semana passada - são muito idênticas às que se encontram no palácio de Sad-Sotun, en Persepolis, a 80 quilómetros de Shiraz, considerado o coração da antiga Pérsia.

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