sexta-feira, 11 de julho de 2008

Que futuro nos espera?


Muitos analistas fazem prognósticos sombrios sobre o futuro que nos espera, como James Lovelock, Martin Rees, Samuel P. Huntington, Jacques Attali e outros. É certo que a história não tem leis, pois ela se move no reino das liberdades que estão submetidas ao princípio de indeterminação de Bohr/Heisenberg e das surpreendentes emergências, próprias do processo evolucionário. No entanto, um olhar de longo prazo nos permite constatar constantes que podem nos ajudar a entender, por exemplo, o surgimento, a floração e a queda dos impérios e de inteiras civilizações.


Quem se deteve mais acuradamente sobre esta questão foi o historiador inglês Arnold Toynbee (+1976), o último a escrever 10 tomos sobre as civilizações historicamente conhecidas: Um Estudo de História. Ai ele maneja uma categoria-chave, verdadeira constante sócio-histórica, que traz alguma luz ao tema em tela. Trata-se da correlação desafio-resposta (challenge-response). Assinala ele que uma civilização se mantém e se renova na medida que consegue equiibrar o potencial de desafios com o potencial de respostas que ela lhes pode dar.


Quando os desafios são de tal monta que ultrapassam a capacidade de resposta, a civilização começa seu ocaso, entra em crise e desaparece. Estimo que nos confrontamos atualmente com semelhante fenômeno. Nosso paradigma civilizacional elaborado no Ocidente e difundido por todo o globo, está dando água por todos os lados. Os desafios (challenges) globais são de tal gravidade, especialmente os de natureza ecológica, energética, alimentar e populacional, que perdemos a capacidade de lhe dar uma resposta (response) coletiva e includente. Este tipo de civilização vai se dissolver.


O que vem depois? Há só conjeturas. O conhecido historiador Eric Hobsbawn vaticina: ou ingressamos num outro paradigma ou vamos ao encontro da escuridão. Quero me deter nos prognósticos de Jacques Attali, economista, ex-assessor de François Mitterand e pensador francês em seu livro Une Brève Histoire de l’Avenir (2006), pois me parecem verossímeis, embora dramáticos. Ele pinta três cenários prováveis que resumirei brevemente.


O primeiro é o do superimpério. Trata-se dos EUA e de seus aliados. Eles conferem um rosto ocidental à globalização e lhe imprimem direção que atende seus interesses. Sua força é de toda ordem, mas principalmente militar: pode exterminar toda a espécie humana. Mas está decadente, com muitas contradições internas que se mostram na inexorável desvalorização do dólar.


O segundo é o superconflito. É o que segue à quebra da ordem imperial. Entra-se num processo coletivo de caos (não necessariamene generativo). A globalização continua, mas predomina a balcanização com domínios regionais que podem gerar conflitos de grande devastação. A anomia internacional abre espaço para que surjam grupos de piratas e corsários que cruzarão os ares e os oceanos, saqueando grandes empresas e gestando um clima de insegurança global. Estas forças podem ter acesso a armas de destruição em massa e, no limite, ameaçar a espécie humana. Esta situação extrema clama por uma solução também extrema.


E o terceiro cenário é o da superdemocracia. A humanidade, se não quiser se autodestruir, deverá elaborar um contrato social mundial com a criação de instâncias de governabilidade global com a gestão coletiva e eqüitativa dos escassos recursos da natureza. Se ela triunfar, inaugurar-se-á uma etapa nova da civilização humana, possivelmente com menor conflitividade e mais cooperação. Só nos resta rezar para que este último cenário aconteça.


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