Antes de fazer um documentário, o documentarista intui o tema. Mas é durante a filmagem que ele descobre exatamente o que está filmando. É assim que Vladimir Carvalho explica como seu novo filme, O engenho de Zé Lins, transcendeu a idéia inicial de homenagear o escritor José Lins do Rego, autor de obras como Menino de engenho ou Fogo morto, para se tornar uma espécie de retrato do tempo e do Brasil. Um retrato da decadência, em que o esquecimento da obra do autor é contemporâneo do colapso do espaço onde viveu e das transformações na vida nacional.O engenho de Zé Lins, que está sendo lançado sexta (dia 21), em Belo Horizonte, é o novo capítulo na obsessiva luta do diretor de O país de São Saruê e Conterrâneos velhos de guerra no sentido de construir um registro cinematográfico ao mesmo tempo crítico e poético da realidade brasileira.O projeto de O engenho de Zé Lins não surgiu por causa das comemorações do cinqüentenário da morte do romancista em 2007. “É uma idéia que já tem quase 60 anos. Tive minha cabeça feita para José Lins do Rego por causa do meu pai, que era fã dele e estudou no mesmo colégio”, explica. Depois de adulto, a idéia de fazer um documentário sobre o escritor surgiu como uma espécie de “identificação nordestina” (tanto Vladimir quanto José Lins do Rego nasceram na Paraíba). No início dos anos 1960, o cineasta pesquisava a história do Rio Paraíba. A proposta não era fazer um estudo acadêmico ou turístico, mas revelar o rio como uma espécie de acontecimento sociogeográfico. No processo, acabou indo ao encontro de cenários tanto da infância de José Lins do Rego quanto de seus romances, além da questão dos engenhos, da posse de terra, da decadência da economia rural nordestina quando a indústria açucareira começou a se fortalecer em São Paulo.Quartel-generalEm 2003, Vladimir Carvalho resolveu conduzir de uma vez por todas o projeto. Reuniu todo o material que já tinha sobre engenhos e se mudou de Brasília, seu quartel-general nas últimas décadas, para o Rio de Janeiro: “É lá que vivem os parentes de José Lins do Rego e onde estão os poucos arquivos que têm maior quantidade de imagens dele”, explica, referindo-se a acervos de jornais, da família do escritor e do cineasta Sílvio Tendler, outro obcecado com o documentário. “No fim das contas, acho que O engenho de Zé Lins acabou se tornando um filme sobre o Brasil contemporâneo, descoberto a partir de uma abordagem do Brasil agrário”, explica Carvalho.O engenho de Zé Lins se transformou em uma espécie de obra aberta, que o espectador pode abordar a partir de diversos pontos. Há quem aprecie, por exemplo, a ótica política. Vladimir Carvalho, sempre envolvido com a questão social, não poderia deixar de associar ao filme o fato de que o engenho onde José Lins do Rego cresceu é hoje assentamento de trabalhadores rurais sem-terra. “Mas a questão já estava presente na obra dele muito antes de o termo sem-terra existir: Moleque Ricardo antecipou toda a questão agrária, tanto em seu estágio atual quanto em outros momentos da história, como as ligas camponesas dos anos 1960”, diz o diretor.Mas há outras abordagens possíveis: O engenho de Zé Lins pode ser visto como uma obra que fala da narrativa, do documentário e do choque entre eles e a realidade. No filme, Vladimir Carvalho apresenta algumas imagens de Menino de engenho, dirigido por Walter Lima Jr., inspirado no romance homônimo de José Lins do Rego e filmado nos próprios locais da infância do autor. “O engenho de Zé Lins, um documentário, dialoga ao mesmo tempo com Meus verdes anos, que é o livro de memórias de José Lins do Rego, sua autobiografia, e com Menino de engenho, que é um romance, é ficção, mesmo inspirado em fatos ou pessoas reais”, conclui.
terça-feira, 25 de março de 2008
Currículo do ensino médio e fundamental terá conteúdo sobre história e cultura indígena
O ensino de história e cultura indígena e afro-brasileira passou a ser obrigatório para alunos do ensino médio e fundamental. Uma lei sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 10 de março inclui a obrigatoriedade da temática no currículo das escolas públicas e particulares.
Para Maria Helena Fialho, coordenadora-geral de Educação na Funai, a lei favorece a disseminação de informações relacionadas ao processo histórico e à importância dos povos indígenas na redução dos preconceitos. “A Funai se dispõe, nesse sentido, a fazer qualquer processo de discussão para contribuir na construção do componente didático indígena na grade curricular”, explica Maria Helena.
O conteúdo programático que se refere à lei incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil. Também será destacado o papel dos índios e negros na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
A educadora e membro titular da Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI), Pierlângela Nascimento Cunha Wapichana, acredita que a lei posiciona os povos indígenas em um novo patamar no cenário nacional da educação. “Nossa esperança é que o povo brasileiro reconheça a diversidade dos povos indígenas e que valorize e respeite essa diversidade. Somente nos preocupa a forma em que será repassado esse conhecimento aos estudantes”, afirma Pierlângela.
Segundo o Diretor do Departamento de Educação para Diversidade e Cidadania da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), Armênio Bello Schmidt, a lei valoriza a diversidade do conhecimento dos povos indígenas, exigindo esforço na formação dos professores não indígenas. “Os municípios e estados terão que criar alternativas para a formação e capacitação dos professores. Outro fator importante é a inserção da diversidade dos povos indígenas, a língua, religião, costumes, enfim, a cultura indígena, nos livros didáticos escolares”, afirmou Armênio Schmidt.
terça-feira, 18 de março de 2008
Escavações revelam muralha do séc. XVI
quinta-feira, 13 de março de 2008
Especialistas criticam herança burocrática deixada por d. João ao sistema tributário
Em 1808, a maior parte dos impostos não era cobrada diretamente pela coroa. "Quem fazia a cobrança eram os 'contratadores'", afirma o historiador Carlos Gabriel Guimarães, professor da UFF (Universidade Federal Fluminense).
Esses contratadores eram grandes comerciantes portugueses espalhados por todo o império. Eles compravam do Erário Régio (o Tesouro Nacional de hoje) o direito de explorar algum serviço público. A partir de então, tudo o que era arrecadado em forma de impostos ficava com eles.
"Os contratadores já existiam desde o período colonial, mas eles se multiplicaram depois que a família real portuguesa desembarcou no Brasil", afirma a historiadora Wilma Peres Costa, professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
É que, a partir de então, algumas famílias influentes nascidas no Brasil passaram a reivindicar o mesmo privilégio. "Era uma moeda de troca. Como d. João acabara de se instalar no Brasil e precisava do apoio de pessoas influentes, ele concedia a elas o direito de explorar os impostos", afirma a historiadora.
Segundo Guimarães, o sistema gerava muita confusão e falcatrua. "Essa foi a grande herança para o sistema tributário de hoje", diz. "Era uma mistura de interesse público e privado. Não é à toa que a força da lei não vinga até hoje."
Impostos mais conhecidos
O historiador lembra que o Erário Régio gastava muito mais do que arrecadava. "Uma das soluções encontradas foi a criação de impostos para tampar buracos", diz.
Havia imposto para tudo. Pagava-se para utilizar os rios, para transportar escravos do Rio de Janeiro para Minas Gerais e para vender aqueles que conheciam algum ofício. Um dos tributos mais importantes era a cobrança de 10% sobre a herança e rendimento dos imóveis, criado em junho de 1808.
"Era o início do imposto predial", afirma o tributarista Alcides Jorge Costa, professor da faculdade de direito do Largo São Francisco, da USP (Universidade de São Paulo). "D. João criou tantos impostos que deixou o sistema bastante caótico", afirma.
Apesar do caos, Wilma diz que a criação de mais impostos era indispensável para a corte, que acabara de se instalar no Brasil e precisava arcar com o alto custo de transferir para o Rio de Janeiro todo o aparato administrativo que estava em Lisboa. "Isso significou uma das principais mudanças no sistema tributário nacional", diz a historiadora.
É que, até então, cada capitania encaminhava sua arrecadação para o Erário Régio em Lisboa. "Quando o Erário veio para o Rio, começou um conflito entre algumas capitanias, que resistiam em enviar sua arrecadação para outra capitania", diz Wilma.
Ela diz que Bahia, Recife e São Paulo, por exemplo, ficaram ressentidas com a nova posição ocupada pelo Rio. "Além disso, a abertura dos portos permitiu a entrada de recursos. Elas não queriam se desfazer de um dinheiro que antes não existia."
"A tributação foi um das motivações para a Revolução Pernambucana de 1817", afirma a historiadora. "A tensão entre as partes era muito grande. É o embrião do que conhecemos hoje como guerra fiscal."
Burocracia portuguesa
Para o advogado Gilberto Luiz do Amaral, presidente do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), a maior herança de d. João deixou para o sistema tributário brasileiro é a burocracia.
"Herdamos muitos tributos que eram portugueses", diz. "O sistema da época tinha como objetivo gerar receita o mais rápido possível e mandá-la para a coroa."
Ele afirma que essa mentalidade de receita rápida não mudou nem com a independência nem com a proclamação da República. "Uma reforma profunda só começou a ser discutida no Brasil no começo do século 20."
Para melhorar o perfil do sistema de arrecadação, o Planalto envia uma nova proposta de reforma tributária para o Congresso.
Para Amaral, o projeto é tímido e a histórica burocracia deve continuar. "O que foi anunciado pelo governo é insuficiente para resolver o problema", afirma. "No ano passado, foi prometida uma grande simplificação nos impostos, mas o que foi apresentado mexe pouco na burocracia."
Japoneses escrevem o nome na história da Amazônia
Na Colônia fica a sede da Associação Cultural 13 de Setembro fundada pelos imigrantes e seus descendentes. Heishiro Kuriyama, 71 anos – que chegou com 17 anos – é o atual presidente. “Chamou atenção de todos, ainda no porto, as palavras de encorajamento proferidas pelo capitão do navio: enquanto estão no navio, tudo bem, mas é depois do desembarque que começam as dificuldades. Uma vida rigorosa espera pelos senhores. Sejam persistentes e tenham coragem!”— ele recorda. “Calou fundo no coração de nós todos”.
Em julho deste ano, a colônia vai comemorar novamente sua chegada em Rondônia, há 54 anos. Em 2009, a festa será em Manaus. Os japoneses vão lembrar os 80 anos da imigração ao Estado do Amazonas.