segunda-feira, 28 de abril de 2008

O Parque Nacional Serra da Capivara




O Parque Nacional Serra da Capivara está localizado no sudeste do Estado do Piauí, ocupando áreas dos municípios de São Raimundo Nonato, João Costa, Brejo do Piauí e Coronel José Dias. A superfície do Parque l é de 129.140 ha e seu perímetro é de 214 Km. A cidade mais próxima do Parque Nacional é Cel. José Dias, sendo a cidade de São Raimundo Nonato o maior centro urbano. A distância que o separa da capital do Estado, Teresina, é de 530 Km.
A maneira mais rápida de chegar ao Parque é através de Petrolina, cidade do Estado de Pernambuco, da qual dista 300 Km. A cidade de Petrolina dispõe de um aeroporto onde opera atualmente a Gol, e a BRA, ligando a região com Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. A criação do Parque Nacional Serra Capivara teve múltiplas motivações ligadas à preservação de um meio ambiente específico e de um dos mais importantes patrimônios culturais pré-históricos. As características que mais pesaram na decisão da criação do Parque Nacional são de natureza diversa:



- culturais - na unidade acha-se uma densa concentração de sítios arqueológicos, a maioria com pinturas e gravuras rupestres, nos quais se encontram vestígios extremamente antigos da presença do homem (100.000 anos antes do presente). Atualmente estão cadastrados 912 sítios, entre os quais, 657 apresentam pinturas rupestres, sendo os outros sítios ao ar livre (acampamentos ou aldeias) de caçadores-coletores, são aldeias de ceramistas-agricultores, são ocupações em grutas ou abrigos, sítios funerários e, sítios arqueo-paleontológicos;




- ambientais - área semi-árida, fronteiriça entre duas grandes formações geológicas - a bacia sedimentar Maranhão-Piauí e a depressão periférica do rio São Francisco - com paisagens variadas nas serras, vales e planície, com vegetação de caatinga ( o Parque Nacional Serra da Capivara é o único Parque Nacional situado no domínio morfoclimático das caatingas), a unidade abriga fauna e flora específicas e pouco estudadas. Trata-se, pois, de uma das últimas áreas do semi-árido possuidoras de importante diversidade biológica;




- turísticas - com paisagens de uma beleza natural surpreendente, com pontos de observação privilegiados. Esta área possui importante potencial para o desenvolvimento de um turismo cultural e ecológico, constituindo uma alternativa de desenvolvimento para a região. Em 1991 a UNESCO, pelo seu valor cultural, inscreveu o Parque Nacional na lista do Patrimônio Cultural da Humanidade. Em 2002 foi oficializado o pedido para que o mesmo seja declarado Patrimônio Natural da Humanidade.O Parque Nacional Serra da Capivara é subordinado à Diretoria de Ecossistemas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), tendo sido concluída a sua demarcação em 1990. Em torno do Parque foi criada uma Área de Preservação Permanente de dez quilômetros que constitui um cinto de proteção suplementar e na qual seria necessário desenvolver uma ação de extensão. Em 1994 a FUMDHAM assinou um convênio de co-gestão com o IBAMA em 2002 um contrato de parceria com a mesma instituição. Depois de criado, o Parque Nacional esteve abandonado durante dez anos por falta de recursos federais. Análises comparativas das fotos de satélite evidenciaram esse fato. Durante este período a Unidade de Conservação foi considerada “terra de ninguém” e como tal, objeto de depredações sistemáticas.




A destruição da flora tomou dimensões incalculáveis; caminhões vindos do sul do país desmatavam e levavam, de maneira descontrolada, as espécies nobres. O desmatamento dessas espécies, próprias da caatinga, aumentou depois da criação do Parque, em decorrência da falta de vigilância. A caça comercial se transformou numa prática popular com conseqüências nefastas para as populações animais que começaram a diminuir de forma alarmante. Algumas espécies, como os veados, emas e tamanduás praticamente desapareceram. Estes fatos tiveram conseqüências negativas na preservação do patrimônio cultural. A falta de predadores naturais provocou um crescimento descontrolado de algumas espécies, como cupim ou vespas cujos ninhos e galerias destroem as pinturas.As causas desta situação são em parte externas à região, mas também decorrem da participação da população que vive em torno do Parque. São comunidades muito pobres, algumas das quais exploravam roças no interior dos limites atuais do Parque. Estas populações dificilmente compreendem a necessidade de proteger espécies animais e vegetais uma vez que os seres humanos apenas logram sobreviver.




Assim, a população local depredava as comunidades biológicas e o patrimônio cultural do Parque Nacional e áreas circunvizinhas, pela caça, desmatamento, destruição de colméias silvestres e a exploração do calcário de afloramentos, ricos em sítios arqueológicos e paleontológicos.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Peter Lund, pai da arqueologia paleontologia brasileira



O dinamarquês Peter Wilhelm Lund, nascido em Copenhagen, capital da Dinamarca em 14 de junho de 1801, era filho de ricos comerciantes.
Diplomado pela Universidade de Copenhagem, guiado por seu ardente interesse pelas ciências naturais, veio ao Brasil pela primeira vez em 1825. Buscava não só dar continuidade a seus estudos botânicos e zoológicos, mas também à procura de um clima mais benéfico para sua saúde debilitada por doença pulmonar.
Estabeleceu-se no Rio de Janeiro, onde realizou um exaustivo levantamento de toda a vegetação da baixada fluminense. Realizou também estudos sobre o comportamento das formigas e procedeu à montagem de várias coleções zoológicas. Em 1829, volta à Europa, estabelecendo contato com as mais importantes autoridades em História Natural como Humbold e Cuvier, entre outras.
Em 1833 retorna, em caráter definitivo, ao Brasil. Ainda nesse ano, iniciou uma viagem para estudar a flora brasileira em companhia do botânico L. Riedel. No decorrer desta viagem, ao passar pela região de Curvelo, em Minas Gerais, encontrou um seu conteporâneo, o dinamarquês Peter Claussen, que explorava salitre nas cavernas calcáreas. Visitando então, as cavernas da região, Lund reconhece, pela primeira vez, as ossadas que se encontravam misturadas ao salitre. Diante destas descobertas, ele não hesitou e decidiu optar por uma nova área de pesquisas. Assim, após concluir os estudos "A Respeito da Vegetação dos Campos do Brasil", Lund fixou residência em Lagoa Santa, encontrando ali o lugar ideal para viver.
As primeiras grutas visitadas por ele na região foram a Lapa Vermelha e a Lapa Nova de Maquiné, tendo escrito com minúcias, os espeleotemas encontrados.



"Todos estes deslumbrantes primores da natureza são realçados
pelos mais delicados ornatos tanto de formas fantásticas quanto de
bom gosto, franjas, grinaldas e uma infinidade de outros enfeites,
cuja enumeração seria fastidiosa e incapaz de dar idéia da beleza
do conjunto àqueles que não o viram com os próprios olhos".
(Lund)



Nestas grutas foram encontradas, pela primeira vez, ossadas fósseis, destacando-se: o Smilodon Populator (tigre-dente-de-sabre), o Tatu Gigante e o Nortrotherium Maguinense (preguiça gigante). Eram fósseis notáveis pelo tamanho e de marcantes diferenças com seus similares mais recentes.
Lund pesquisou mais de uma centena de grutas, onde encontrou em torno de 120 espécies fósseis e 94 espécies pertencentes à fauna atual. A coleção de Lund é composta de espécies das seguintes ordens de mamíferos: Marsupiália, Chiroptera, Rodentia,Carnívora, Notungulata, Liptoterna, Artiodáctyla, Perissodactyla, Prosbocídea, Edentada e Primatas.
Suas pesquisas duraram 10 anos e a coleção, possuindo 14 mil peças ósseas, foi enviada para a Dinamarca, sendo posteriormente estudada por Herluf Winge e Reinhard.
Em 1844, Lund perde todo o seu vigor físico, abandonando as pesquisas de campo e passando a viver em completo isolamento, interrompendo, assim, todo o seu trabalho científico.



Lund - as várias facetas do cientista



Além de botânico, zoólogo e paleontólogo, Lund de também grande contribuição à arqueologia de seu tempo. Foi o primeiro a assinalar a existência dos sambaquis (montes de restos marinhos) no litoral brasileiro. Dava como certa a construÇão dos mesmos pelo homem e, assim sendo, se constituíam em valiosos sítios arqueológicos.
Fez mebção às inscrições rupestres encontradas em algumas grutas por ele visitadas e descreveu instrumentos líticos encontrados próximos às margens do Rio Tietê (SP) e em grutas mineiras.
Publicou diversos trabalhos junto à "Real Sociedade Científica Dinamarquesa", obtendo o reconhecimento dos grandes cientistas da época.

Foi ele também quem deu o primeiro passo para o estudo da ecologia brasileira, ao convidar o jovem botânico Eugene Warming para vir a Lagoa Santa fazer um levantamento dos cerrados na região. Um exaustivo estudo da vegetação foi então realizado, dando origem a um magnífico trabalho publicado em 1840 - o primeiro estudo mundial de Fitoecologia.


Lund - o homem



Além de grande cientista, Lund foi também o homem amigo e prestimoso para os habitantes da pequena Vila de Lagoa Santa, onde viveu os últimos anos de sua vida.
De hábitos bastante excêntricos e temperamento arredio, preferindo o isolamento, ele tinha, no entanto, constantemente a seu lado, o filho adotivo, Nereu Cecílio, que o auxiliava em tudo o que fazia.
Prestou inestimável construbuição à vida cultural do Arraial ensinando música e criando a primeira banda de música de Lagoa Santa - a Corporação Musical Santa Cecília.
Todos os seus bens, ele os distribuiu entre seu filho Nereu cecílio e entre algumas pessoas que o serviram, comprovando com isto, mais uma vez, seu caráter humanitário.
Ao pressentir a aproximaÇao de sua morte, ocorrida em 25 de maio de 1880, Lund determinou o lugar onde desejava ser sepultado - à sombra de um pequizeiro, num local aprazível onde costumava ir estudar. Lund era protestante e por isto seu desejo de ter um jazigo particular. No mesmo local foram sepultados seus colaboradores Bherens e Müller.
Em 1935 foi erquido, nesse local, um monumento a Eugene Warning e aLund por iniciativa da Academia Mineira de letras.
Há quase dois séculos atrás, Lund já se preocupava e alertava a todos sobre a importância da preservação do meio ambiente, especialmente das grutas e da vegetação que, àquele tempo, já eram destruídas e depredadas para exploração econômica. Em carta ao rei Cristiano da Dinamarca, ele externou seu desejo e preocupação, concluindo com muita sabedoria, que tudo seria muito diferente se a luz benéfica da ciência guiasse os trabalhos da indústria.